A decepção do Brasil no início da Copa do Mundo da Rússia poderia ter ficado restrito ao empate com a Suíça, porém atitudes dos torcedores brasileiros em notória violência contra a mulher demonstraram claramente que nosso país necessita de legislação especial em proteção à mulher, a exemplo da Lei Maria da Penha e a punição pelo Feminicídio.
Hoje o noticiário esteve repleto de Notas de Repúdio. Um dos torcedores do Brasil é o advogado pernambucano, Diego Valença Jatobá. A OAB-PE, por intermédio da Comissão da Mulher se posicionou através da seguinte nota:
A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Pernambuco, por intermédio da Comissão da Mulher Advogada, repudia veementemente o conteúdo de um vídeo amplamente divulgado nas redes sociais em que um grupo de brasileiros ladeia uma mulher, que aparentemente não é brasileira nem fala português, e profere em coro ofensas relacionadas ao seu órgão sexual.
Dentre os protagonistas do lamentável episódio, identifica-se o advogado Diego Valença Jatobá, regularmente inscrito nesta Seccional.
Segundo dados da ONU, uma em cada três mulheres é ou será vítima de violência de gênero no mundo, sendo o Brasil o 5º país no ranking mundial de violência contra as mulheres.
De acordo com Relógios da Violência do Instituto Maria da Penha, a cada 2 segundos uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil e a cada 1.5 segundo uma mulher é vítima de assédio na rua.
As estatísticas são alarmantes e nos levam a uma profunda reflexão sobre a necessidade de uma mudança urgente da cultura machista e patriarcalista em que nossa sociedade ainda está, infelizmente, inserida.
A preconceituoso atitude é causa de vergonha para todos nós, brasileiros, e vai na contramão do atual contexto de luta contra a desigualdade de gênero, em que cada dia mais as instituições públicas e privadas estão em busca de soluções conjuntas para que nenhuma mulher sofra qualquer tipo de violência ou discriminação pelo fato de ser mulher.
A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Pernambuco, por intermédio da Comissão da Mulher Advogada, reafirma seu compromisso de trabalho incansável para que os princípios do Estado Democrático de Direito sejam resguardados, proporcionando-se às mulheres a garantia de exercício de suas liberdades individuais e sexuais, com igualdade de espaço, de oportunidades e, sobretudo, de tratamento.
Recife/PE, 18 de junho de 2018.
Ronnie Preuss Duarte
Presidente da OAB/PE
Ana Luiza Mousinho
Presidente da Comissão da Mulher Advogada
A atitude dos torcedores é vergonhosa, refletindo internacionalmente o gritante motivo do Brasil ser o quinto país no ranking de violência contra as mulheres. E sabe qual o quarto país do ranking? A Rússia. As russas estão mais sujeitas a serem assassinadas do que qualquer outra nacionalidade europeia. Em 2011, o país apresentou a taxa de 5,3 homicídios de mulheres entre grupos com 100 mil habitantes. Não Rússia, pasmem, violência doméstica contra a mulher não é crime, conforme matéria do G1 que faz uma abordagem com a temática: Na Europa, violência doméstica é vista pela Justiça de formas bem diferentes. Enquanto a Inglaterra considera violência doméstica violação de um espaço de confiança, na Rússia, homens são autorizados a bater na mulher. Brasil e Rússia só estão atrás no ranking de Guatemala, Colômbia e El Salvador.
A legislação e as políticas públicas de proteção à mulher vítima de violência no Brasil, a custo de muita luta e batalha, tem avançado. O Supremo Tribunal Federal já se posicionou no sentido de que "Em Briga de Marido e Mulher se mete a colher SIM.
Por outro lado, infelizmente, o que também avança é o machismo, a banalização do assunto e também a absurda justificativa: "foi de brincadeira". NÃO É BRINCADEIRA, É CRIME!
A torcedora russa, além de sofrer duramente a violência institucional de seu país, o qual se recusa a protegê-la legalmente contra a violência doméstica, lamentavelmente, experimenta o dessabor que as brasileiras enfrentam diariamente com vários homens brasileiros. E sim, "A preconceituoso atitude é causa de vergonha para todos nós, brasileiros, e vai na contramão do atual contexto de luta contra a desigualdade de gênero, em que cada dia mais as instituições públicas e privadas estão em busca de soluções conjuntas para que nenhuma mulher sofra qualquer tipo de violência ou discriminação pelo fato de ser mulher" e torcemos para que as russas, um dia, também alcancem as possibilidades de proteção legal que as brasileiras, aos poucos, vão construindo.
Por @elviobezerra
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