Perdoai. Mas eu preciso ser Outros


Há momentos que a gente entra numa rotina intensa. De repente nos ausentamos de nós mesmos e quando nos damos por si não nos conhecemos mais. É louco quando a gente se perde dentro da gente mesmo, né?

E sabe, hoje sei bem que não tem nada de errado em parar, respirar, indagar-se e reconhecer que na verdade há pessoas que não nasceram para rotinas construídas, mesmice e automaticidade. Talvez essa pessoa pode ser você!

 Há pessoas que dão um significado grandioso ao movimento da liberdade. Talvez a liberdade seja sinônimo de permitir-se àquelas experiências escondidas nas anotações de infância, nos sonhos esquecidos nas listas de boas intenções, nos almejos enterrados por anos e naquelas vontades de navegar todos os oceanos, saltar de paraquedas, pedalar pelos continentes, ver o sol do Pacífico, o luar do Mediterrâneo, a aurora boreal e acordar num modesto apartamento em Paris... de frente para a  torre Eiffel, né!? 

Há pessoas que almejam o inusitado das manhãs, a novidade do canto dos pássaros, uma música nova por ouvir, um traço novo no desenho antigo, o cheiro do café coado misturado com os  pensamentos criativos que irão explodir daqui a pouco. É, somos universos! 

Nesse momento ouço cair a chuva que ao som de gotas orquestrais quebra o silêncio do meu aconchego. Nesse cenário, após saborear mais uma xícara de café recordo de um questionamento que tive há alguns dias de uma pessoa que muito amo. Ela questionou justamente o meu modo nada automático de viver. As palavras foram de certa forma doloridas, até porque na ocasião não consegui explicar “com amor” o meu modo de viver e também acredito que para as nossas escolhas não há explicações e satisfações. Mas agora, refletindo um pouco mais, lançando mão de uma poesia do saudoso Manoel de Barros talvez, e se na ocasião eu a tivesse em mãos, responderia: 

“Perdoai. Mas eu preciso ser Outros, eu penso renovar o homem usando borboletas”.

Elvio Bezerra

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